sábado, novembro 18, 2006

Centro Cultural Banco do Nordeste (Fortaleza-CE) abre três exposições de artes visuais

O Centro Cultural Banco do Nordeste-Fortaleza (rua Floriano Peixoto, 941 – Centrofone: (85) 3464.3108) abrirá três exposições de artes visuais na próxima terça-feira, 21, a partir das 19 horas.
São
elas: “A C.A.S.A.”, com o artista paulistano Laerte Ramos; “Perguntas ordinárias em percursos existenciais”, com o cearense Enrico Rocha; e “Escadaparamallarmé”, com Nivardo Victoriano e curadoria de Herbert Rolim, ambos cearenses. Gratuitas ao público, as três exposições ficam em cartaz até 21 de janeiro de 2007.

A C.A.S.A.
A casa é o bem-estar buscado nos olhares, pensamentos e desejos do povo. A produção de Laerte Ramos, que poderá ser vista através de objetos, desenhos, vídeos e fotografias, é o reflexo dessas casas que estão em muitos lugares ao mesmo tempo, e que, ao lado umas das outras, se transformam numa trama de desejos e pensamentos que se voltam dela e para ela.
Paulistano, 28 anos, Laerte Ramos é bacharel e licenciado em Artes Plásticas pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). Ele faz parte de uma novíssima geração de artistas, onde a pesquisa poética tem se pautado pela expansão do conceito de cidade.
A cidade como lugar da vivência estética. Se viver numa cidade é uma arte, colocar a imaginação a serviço de uma outra construção é propor rachaduras no espelho do real.
Mais do que uma presença marcante na pesquisa do artista, a cidade se apresenta como estratégia de um jogo, onde o participante é convidado a desempenhar diversos papéis.
Em determinadas ações, Laerte Ramos apresenta a cidade como palco, onde o artista intervém na lógica da produção de signos e imagens. Em outros momentos, a cidade é resultado de um jogo proposto pelo artista, onde construção/desconstrução são ações efetuadas pelos participantes.
Se “a cidade é um discurso e esse discurso é, na verdade, uma linguagem”, como diz o artista, elesem nenhum desejo utópicoinventa um território, onde os meios de expressão (gravura, vídeo, cartaz, escultura) são armas a serviço de um quase-terrorismo poético.

Perguntas
ordinárias em percursos existenciais
Trata-se de uma exposição de fotografias que propõe o cruzamento entre modos de compreender e experimentar a cidade e arte. A realização das imagens teve início na colagem de pequenos adesivos nos bancos dos ônibus que realizam o transporte público urbano.
Ao todo, serão exibidas sete imagens. Em cada imagem, vê-se um adesivo com perguntas e desenhos estruturados com pontos e linhas, como a trama do transporte público.
A idéia do artista é propor um diálogo entre a interferência do espaço real da cidade e o registro dessa interferência na galeria, bem como pensar a cidade como lugar privilegiado da existência humana, compreendendo o outro como parte da nossa experiência.
Cearense radicado no Rio de Janeiro, Enrico Rocha é mestrando em Linguagens Visuais na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
Em 2005, participou do Salão de Arte Pará e da exposição Entre-Lugares no Alpendre Casa de Arte, Pesquisa e Produção, em Fortaleza. Em 2003, participou da mostra Experimental, no Museu de Arte Contemporânea, em Fortaleza. Em 2002, foi selecionado pelo projeto Rumos Itaú Cultural.

Escadaparamallarmé
Resultado da pesquisa desenvolvida pelo artista Nivardo Victoriano, unindo artes visuais e literatura, esta mostra será realizada nas escadarias de granito negro do CCBNB-Fortaleza (o prédio tem três andares).
O título é uma referência a Mallarmé (1842-1898), poeta francês que em 1897 acenou com inéditos critérios estruturais, sugerindo a superação do próprio livro como suporte instrumental do poema.
Segundo o curador desta exposição, Herbert Rolim, é justamente em torno desse fenômeno de dupla natureza (plástica e literária), que se dão as experiências de Nivardo Victoriano.
Nas escadas do CCBNB, serão sobrepostas letras adesivas do poema “A poesia andando”, do pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999), em diferentes tamanhos e tonalidades de cor, do amarelo-claro ao alaranjado.
Essas letras adesivas formam trajetórias do olhar para além das questões plástico-estéticas, bem como trilhas de leitura que se expandem para além das questões literárias – ou seja, um percurso que não se pode fazer com uma linguagem em detrimento da outra, sob pena de se perder no caminho.
Não é por acaso que Nivardo intitula a obra Escadaparamallarmé com o nome deste poeta simbolista, autor de Un coup de dés jamais n’abolira le hasard (tradução: “um lance de dados jamais abolirá o acaso”), e o conjuga com o poema de João Cabral.
Ele usa este recurso de intertextualidade para congregar os avanços, recuos e prolongamentos do desenho vocabular, característico do primeiro, com a poesia em prosa do outro, deslocando o texto para um espaço de passagem que é a escada.
“É, portanto, o observador em trânsito quesentido a obra na medida em que ele cria seu próprio ritmo, numa interlocução entre corpo e obra, sujeito e espaço, acrescentando à ação camadas de significado”, conclui Herbert Rolim.
Cearense, Nivardo Victoriano é licenciado em Letras pela UFC, especialista em Investigação Literária e atualmente cursa Artes Plásticas no Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará (CEFET-CE). Participou do Salão de Abril de Fortaleza, em 2001, 2003 e 2005, do Salão de Arte de Sobral em 2002 e 2004. Por sua vez, o curador da exposição, Herbert Rolim é artista visual e professor de Artes Visuais e de Arte-Educação no CEFET-CE.